sábado, 29 de setembro de 2012

Beijo frustrado


Na década de oitenta os beijos cinematográficos de Hollywood despertavam nos jovens uma euforia transcendental.
Enfeitiçadas por essas cenas e também algumas revistinhas de história de amor, aos treze anos de idades participei de uma brincadeira na qual as participantes teriam que manter constantemente uma sigla escrita no braço.  Se não me falha a memória a sigla era a seguinte: AABC (Abraço Apertado Beijo Colado), quem fosse pega sem a sigla escrita no braço teria que pagar um beijo em um garoto escolhido pela colega que flagrou a falta da sigla.
Os meninos amavam essa brincadeira e as meninas também, porém, eu nunca quis ser flagrada, pois ainda era BV. O dia fatídico foi quando uma de minhas colegas observou que eu tinha esquecido em escrever a sigla antes de sair de casa. Não tive como escapar. O pagamento do beijo aconteceria à noite longe dos olhos de minha mãe, é claro!

Ao chegar a hora crucial meu coração batia como um bombo. Minhas mãos pingavam suor, mas que ninguém percebesse isso. No local estavam presentes algumas garotas e garotos para testemunharem o grande feito.
Um minuto para aproximar meus lábios dos lábios do rapaz que havia sido escolhido e que não por coincidência também era ligado em mim tornou-se uma eternidade. Bem, rompidos todos os obstáculos menos a vergonha quando meus lábios sentiram os dele, dei-lhe uma tremenda mordida no lábio inferior que ficou uns quinze dias roxo e inchado.
Com vergonha passei alguns dias sem falar com o garoto. Passado o vexame reatamos a amizade e um namorico começou. Descobri que ninguém deve influenciar você a fazer algo que você não quer ou que seja errado. Devemos nos posicionar quanto ao que queremos, ou então, seremos marionetes nas mãos dos outros. 

sábado, 22 de setembro de 2012


PitangaRoubo fracassado

Eu vim de uma família muito pobre, muitas vezes, eu e meus irmãos não tínhamos biscoitos para o lanche, nem sequer ouvíamos falar dos baratos biscoitos recheados. Tínhamos que aguardar a próxima refeição para podermos comer. Muitas vezes nosso lanche era suprido pelas árvores do quintal.
Na ausência de frutas no quintal, eu, que era a mais “esperta” aprendi com facilidade pegar pitangas no quintal da vizinha. Já estava perita no assunto. Todo dia atravessava a cerca de arame farpado e colhia com todo amor  suculentas pitangas. Ô fruta deliciosa!
Não era a fome que me motivava a fazer isso, pois sempre tínhamos as três refeições, mas a gula de degustar uma fruta roubada, acredito, era meu maior estímulo.
 Certo dia, colhi o máximo de pitangas que pude aparando-as na barra de minha blusa. Estava cega, pois não percebi que no meio delas veio também uma pimenta. Elas eram tão parecidas que não notei a intrusa. Saboreei uma por uma até que foi a vez da pimenta. Minha autoconfiança havia nublado minha visão. A boca começou a queimar, arder, meus lábios pareciam que estavam pegando fogo. Somente depois de beber muita água e comer açúcar a dor foi diminuindo.
Minha vizinha sentiu-se incomodada com o sumiço das pitangas, então teve a brilhante ideia de amarrar uma pimenta bem vermelhinha no meio das outras frutas. Ela queria dar-me uma lição e conseguiu. A lição de que “nem tudo que parece é”. Algo pode parecer maravilhoso aos nossos olhos agora e depois arder como pimenta. Por exemplo: um namorado ou uma namorada poderão parecer uma deliciosa pitanga e depois queimar como uma pimenta. Uma amizade poderá nos envolver de tal forma que não conseguimos enxergar que ao invés de pitanga ela é uma pimenta, nos arrebatando para o mal, transformando o doce de nossa vida e muitas vezes de nossa família num ardor igual o da pimenta. Portanto, abra bem os olhos para não errar em suas escolhas.



   

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Poema: um lindo presente!

Ou isto ou aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

                                                                     Cecília Meireles


Hoje tenho quase 43 anos e sou fruto de minhas escolhas. Quero compartilhar com vocês minhas aventuras, minhas incertezas, meus acertos e meus erros. Todos esses adjetivos me fizeram ser quem eu sou hoje. Sou filha, esposa, mãe, amiga e com alegria de sê-lo: professora.
Dedico este blog a todos meus familiares, conhecidos , desconhecidos, aos meus corajosos colegas de profissão e aos meus eternos alunos.
Deixo para vocês este poema de Cecília Meireles como um lindo presente. Beijos!