Eu vim de uma família muito pobre, muitas vezes, eu e
meus irmãos não tínhamos biscoitos para o lanche, nem sequer ouvíamos falar dos
baratos biscoitos recheados. Tínhamos que aguardar a próxima refeição para
podermos comer. Muitas vezes nosso lanche era suprido pelas árvores do quintal.
Na ausência de frutas no quintal, eu, que era a mais “esperta”
aprendi com facilidade pegar pitangas no quintal da vizinha. Já estava perita
no assunto. Todo dia atravessava a cerca de arame farpado e colhia com todo
amor suculentas pitangas. Ô fruta
deliciosa!
Não era a fome que me motivava a fazer isso, pois sempre
tínhamos as três refeições, mas a gula de degustar uma fruta roubada, acredito,
era meu maior estímulo.
Certo dia, colhi o
máximo de pitangas que pude aparando-as na barra de minha blusa. Estava cega,
pois não percebi que no meio delas veio também uma pimenta. Elas eram tão
parecidas que não notei a intrusa. Saboreei uma por uma até que foi a vez da pimenta.
Minha autoconfiança havia nublado minha visão. A boca começou a queimar, arder,
meus lábios pareciam que estavam pegando fogo. Somente depois de beber muita
água e comer açúcar a dor foi diminuindo.
Minha vizinha sentiu-se incomodada com o sumiço das
pitangas, então teve a brilhante ideia de amarrar uma pimenta bem vermelhinha no
meio das outras frutas. Ela queria dar-me uma lição e conseguiu. A lição de que
“nem tudo que parece é”. Algo pode parecer maravilhoso aos nossos olhos agora e depois arder como pimenta. Por exemplo: um namorado ou uma namorada
poderão parecer uma deliciosa pitanga e depois queimar como uma pimenta. Uma
amizade poderá nos envolver de tal forma que não conseguimos enxergar que ao
invés de pitanga ela é uma pimenta, nos arrebatando para o mal, transformando o
doce de nossa vida e muitas vezes de nossa família num ardor igual o da
pimenta. Portanto, abra bem os olhos para não errar em suas escolhas.
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