Sérgio Murilo, meu irmão, o
único de cor clara em meio a cinco irmãos miscigenados, sempre obteve os
favores dos meus pais, parentes e vizinhos. Ou seja, ele era o mais bonito da
família por ser loiro de olhos claros.
Joia era como nós o
chamávamos. Minha tia colocou esse apelido por achar ele muito bonito, e
realmente o era. Certa vez uma pediatra para adotá-lo, minha mãe negou é claro. Uma de nossas
vizinhas sempre o levava para a casa dela, a fim de agradá-lo
com mimos.
Como irmão ele era sempre o
mais calmo, altruísta, tinha um coração excelente. Fazia traquinagem como toda
criança, mas nada que manchasse seu caráter. Em suma ele era um amor de pessoa.
Ia tudo bem até que ele foi
trabalhar em uma lanchonete que pertenceu a meu pai. Na lanchonete era vendida
cerveja, e por algum motivo ele começou a beber escondido, quando soubemos, ele
já estava viciado. Tudo que fazíamos para ajudá-lo a sair do vício do álcool
era inútil. O vício foi crescendo de tal forma que quando não tinha dinheiro
para comprar bebida alcoólica ele bebia vinagre. Nessa época meu pai já tinha
afastado ele da lanchonete para tentar recuperá-lo, mas era tarde demais.
Quando ele com nossa ajuda parava de beber, só aguentava uma semana, pois
começava a síndrome da abstinência que ele não conseguia superar.
Quando ele adoecia minha mãe
o internava para tratamento, quando saía do hospital voltava a beber, não tinha
forças para lutar contra o vício nem queria ser internado em clínica de
tratamento.
Certa terça-feira sonhei
fazendo o enterro dele, fiquei preocupada e liguei para minha mãe que me disse
para não ficar preocupada que ela o tinha
internado para tratamento mais uma vez. Fiquei tranquila, pois era melhor ele
recebendo cuidados médicos do que jogado na sarjeta, onde muitas vezes ele se
encontrava, não sabia eu que do hospital meu irmão não sairia vivo. Na
sexta-feira seguinte ao dia do meu sonho eu realmente estava enterrando-o.
O que faz com que tantos
filhos queridos de suas mães se entreguem a um vício, sem dar-lhe a alegria de
sentar-se a mesa para almoçarem juntos, de fazer uma faculdade, de constituir
uma bela família, eu não sei. Como pode um bebê que foi amamentado com tanto
carinho crescer para ser vítima do álcool, das drogas, ou seja, lá o que for.
Não foi pra isso que nascemos, nascemos para ser uma bênção para Deus e a
humanidade. Muitas vezes deixamos sê-lo por fazermos escolhas erradas.
Meu amado irmão faleceu com apenas 23 anos de
idade, na flor da juventude, nunca esquecerei os momentos que passamos juntos tanto
nas alegrias como nas tristezas, esses momentos permanecerão comigo para
sempre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário