sábado, 10 de novembro de 2012

In memorian de Sérgio


Sérgio Murilo, meu irmão, o único de cor clara em meio a cinco irmãos miscigenados, sempre obteve os favores dos meus pais, parentes e vizinhos. Ou seja, ele era o mais bonito da família por ser loiro de olhos claros.
Joia era como nós o chamávamos. Minha tia colocou esse apelido por achar ele muito bonito, e realmente o era. Certa vez uma pediatra para adotá-lo,  minha mãe negou é claro. Uma de nossas vizinhas sempre o levava para a casa dela, a fim de agradá-lo com mimos.
Como irmão ele era sempre o mais calmo, altruísta, tinha um coração excelente. Fazia traquinagem como toda criança, mas nada que manchasse seu caráter. Em suma ele era um amor de pessoa.
Ia tudo bem até que ele foi trabalhar em uma lanchonete que pertenceu a meu pai. Na lanchonete era vendida cerveja, e por algum motivo ele começou a beber escondido, quando soubemos, ele já estava viciado. Tudo que fazíamos para ajudá-lo a sair do vício do álcool era inútil. O vício foi crescendo de tal forma que quando não tinha dinheiro para comprar bebida alcoólica ele bebia vinagre. Nessa época meu pai já tinha afastado ele da lanchonete para tentar recuperá-lo, mas era tarde demais. Quando ele com nossa ajuda parava de beber, só aguentava uma semana, pois começava a síndrome da abstinência que ele não conseguia superar.
Quando ele adoecia minha mãe o internava para tratamento, quando saía do hospital voltava a beber, não tinha forças para lutar contra o vício nem queria ser internado em clínica de tratamento.
Certa terça-feira sonhei fazendo o enterro dele, fiquei preocupada e liguei para minha mãe que me disse para não ficar preocupada que ela o  tinha internado para tratamento mais uma vez. Fiquei tranquila, pois era melhor ele recebendo cuidados médicos do que jogado na sarjeta, onde muitas vezes ele se encontrava, não sabia eu que do hospital meu irmão não sairia vivo. Na sexta-feira seguinte ao dia do meu sonho eu realmente estava enterrando-o.
O que faz com que tantos filhos queridos de suas mães se entreguem a um vício, sem dar-lhe a alegria de sentar-se a mesa para almoçarem juntos, de fazer uma faculdade, de constituir uma bela família, eu não sei. Como pode um bebê que foi amamentado com tanto carinho crescer para ser vítima do álcool, das drogas, ou seja, lá o que for. Não foi pra isso que nascemos, nascemos para ser uma bênção para Deus e a humanidade. Muitas vezes deixamos sê-lo por fazermos escolhas erradas.
 Meu amado irmão faleceu com apenas 23 anos de idade, na flor da juventude, nunca esquecerei os momentos que passamos juntos tanto nas alegrias como nas tristezas, esses momentos permanecerão comigo para sempre.  
  

                                                                             


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