Na
Praia de Piedade quem não tem boia, boia
Aqui no nordeste do Brasil boiar pode ser flutuar pela
norma culta e ficar por fora do assunto pelo dicionário de gírias. Traduzindo:
àquele que não tem um objeto chamado boia fica por fora, ou seja, fica a ver navios.
Meu pai, caminhoneiro de mão cheia, não dispensava uma
boia para se aventurar no mar de Piedade que é uma das praias mais lindas do
nordeste. Com muita criatividade ele improvisava uma boia de uma câmara de ar
da roda de um caminhão (síndrome de pobreza) – ainda bem qu’eu era criança e
não conhecia a vaidade. Nossos domingos ensolarados eram os mais divertidos
possíveis.
Num desses domingos de sol brilhante, ele empolgado com a
boia que parecia mais um barco de tão grande pediu-me pra subir nela, o que sem
mais delongas o fiz. Navegamos como se tivéssemos no Nautilus do Capitão Nemo,
até que um tsunami, pois é como uma criança de 10 anos enxerga uma grande onda,
nos arrebatou jogando-nos a salvos na beira da praia graças a Deus.
Depois deste episódio aprendi um ditado muito usado por
aqui, “o mar não tem cabelo”. Tomar banho na praia somente se tiver arrecifes
para proteger tanto das enormes ondas como de famintos tubarões.
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