sábado, 15 de dezembro de 2012

A casa caiu papai?



Quando meus pais casaram passaram um bom tempo morando de aluguel e outro tempo morando na casa de minha avó. A casa dela era grande, então foi dividida para as duas famílias morarem. Durante algum tempo tudo ia bem, até que minha avó foi pra São Paulo resolvendo vender a casa.

Bem, meu pai teve que procurar uma casa nas pressas. Achou uma casinha pra comprar bem humilde, melhor dizendo, uma casa de taipa. Minha avó deu uma parte do dinheiro que vendera a casa a meu pai, e ele juntamente com uns trocados que economizara comprou uma casinha.

Essa casa nos abrigou durante alguns longos anos. Ela era humilde, mas era limpinha e organizada. Ela tinha dois quartos, uma sala e uma cozinha. O banheiro era do lado de fora, não tinha terraço ou varanda, mas tudo era bem arrumado, pois minha mãe sempre foi muito limpa e organizada.

Depois de algumas chuvas a casa começou a inclinar-se para trás, então meu pai teve a brilhante ideia de escorar a casa com três paus. Por incrível que pareça deu certo a casa permaneceu firme como a Torre de Pizza, creio que uma mão segurou-a bem firme.

Claro que essa não era a casa dos meus sonhos, mas foi ela que me abrigou do relento durante parte de minha infância e adolescência.  Porém, meus amiguinhos/vizinhos muitas vezes zombavam de nossa “pobreza”. Num dia quando eu seguia para minha casa depois da escola encontrei no caminho próximo a minha casa um colega que morava em minha rua, ele olhou para mim e com tom zombeteiro deu-me a triste notícia que a minha casa havia caído. Apesar daquela notícia ter dado um baque em meu coração, eu desci a ladeira em direção a minha casa sem piscar os olhos para não dá a entender que tinha acreditado no que aquele maldoso dissera. Cada passo que eu dava PARECIA UMA ETERNIDADE até, finalmente, enxergar minha casa e constatar ainda ao longe, do princípio da rua que era tudo mentira. Vocês não sabem como suspirei aliviada.

Aqui no Nordeste a expressão “a casa caiu” significa que as coisas foram frustradas, não deram certo. No sentido literal minha casa poderia ter caído, mas como disse antes tinha uma mão sustentando-a. Depois dessa temporada meu pai conseguiu comprar a casa mais “rica” da rua. Mas essa é uma outra história.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Estou com raiva da morte...


...Porque ela arrebatou de mim essa semana meu cachorrinho chamado Montanha. Ele nasceu em minha casa, por isso me apeguei tanto.

Em meio as minhas lágrimas refleti com mais clareza acerca de mães que perderam seus filhos, filhos que perderam suas mães. Algum vovô que já se foi, um tio, um primo, a morte é uma triste realidade em nossa vida.

O ser humano não foi criado por Deus para morrer, à prova é tanto que todos nós fazemos de tudo para que ela passe bem distante, o que muitas vezes não acontece. Seja como for, há algo dentro de nós que a rejeita. Geneticamente fomos feitos para viver eternamente, mas começamos a morrer desde a hora em que nascemos. A dor, a solidão, o desconsolo falam mais alto dentro de nós quando alguém querido se vai para nunca mais voltar. E são esses sentimentos que nos fazem refletir sobre a efemeridade da vida.

Devemos aprender a valorizar cada minuto em que passamos ao lado daqueles que amamos. Devemos dizer-lhe o quanto apreciamos estar com eles. Porque um dia tudo será apenas recordação.

P.S. Próxima semana acrescento a foto de Montanha para vocês verem.

 

sábado, 24 de novembro de 2012

Aguardando a promessa


Não há muito tempo, conheci Kadashi um belo cachorro que perambulava nas ruas próximas a minha casa. Ele era um cachorro grande, peludo, branco e muito manso, chamava a atenção de todos por causa de sua altura e beleza.
Certo dia sua dona arrumou as malas, alguns objetos mais importantes e saiu às pressas deixando Kadashi para trás. Houve um problema sério para que ela se mandasse.
Kadashi perambulou pelas ruas comendo a comida que a vizinhança dava, alguns tentaram adotá-lo, mas sem sucesso. Minha sogra levou-o para casa dela para trata-lhe os ferimentos, pois ele estava com umas feridas cheias de larvas, porém, quando ele melhorava enchia a barriga e ia embora novamente para a parada de ônibus e ficava lá deitado dia e noite. Eu sempre o via lá. Então num dia percebi que ele não andava mais por ali. Perguntei ao dono da borracharia se ele vira o cachorro, ao que ele respondeu: __ A dona de Kadashi veio em busca dele e achou-o  deitado na parada, colocou-o no carro e foi embora.
Fiquei feliz em saber que Kadashi, finalmente reencontrara-se com sua dona a quem ele fielmente esperava há alguns meses. Depois do caso passado fiquei meditando, se um animal “irracional” foi capaz de acreditar na promessa de que sua dona voltaria, por que alguns de nós não acreditamos na promessa que o Messias nos deixou em João 14: 1-4? Um dia Kadashi foi recompensado vendo sua dona voltar. Àqueles que esperarem ver Jesus voltar, certamente o verão e serão recompensados.

sábado, 17 de novembro de 2012

Super-homem por alguns segundos


Como é bom agente se sentir livre, poderosa, dona de si. Aos doze anos, finalmente ganhei uma bicicleta. A bicicleta pertencera a um grande ciclista. Meu pai nunca pôde me dar uma bicicleta nova, então ele comprou essa, que passava mais tempo quebrada que funcionando.
Eu só tinha pedalado nas bicicletas das colegas, a famosa voltinha, por isso eu nunca aprendera pedalar bem. Quando meu pai chegou com a bicicleta fiz uma festa tão grande que quem visse pensaria que a bicicleta era nova. Aprendi pedalar como ninguém. Quando subia na bicicleta me sentia uma verdadeira ciclista. Fazia questão de ser boa no que fazia. Até que um dia...
Certa vez eu estava tão convencida de minha capacidade que experimentei fazer algo diferente. Resolvi fechar os olhos e descer a ladeirinha de minha casa até o final da rua. Ora, eu sabia pedalar sem as mãos, ficava em pé apoiada no guidon, por que não pedalar de olhos fechados, era simples, eu pensava.
Respirei fundo, sentei na sela, fechei os olhos e pedalei. Quem está com os olhos fechados não enxerga nada, e eu estava cega, no verdadeiro sentido da palavra. Quando já estava quase no final da rua, minha bicicleta fez uma volta de mais ou menos sessenta graus me desviando da reta. A bicicleta foi na direção de uma casa que ficava a um metro e meio abaixo da rua. Foi um voo sem igual, parecia Rose e Jack na proa do Titanic, o vento soprando meus cabelos, uma sensação de poder até que pof! Caí no chão a um palmo da parede da casa. Estou viva hoje graças a Deus, mas poderia ter sido meu último dia.
Essa história nos ensina que não somos nada para arriscarmos a vida à toa. Somente em Hollywood não se morre. Na vida real nos arriscamos e arriscamos a vida de outrem, fazendo rachas nas ruas, pulando de band-jump e tantas outras brincadeiras que poderá se tornar fatal para nossas vidas. Se os jovens que mergulharam em uma caixa d’água da cidade de São Paulo soubessem que custaria suas vidas a brincadeira, pensariam duas vezes antes de correrem o risco. Eles estavam cegos, assim como eu estava, felizmente para mim foi um final feliz, ainda que um pouco machucada.

sábado, 10 de novembro de 2012

In memorian de Sérgio


Sérgio Murilo, meu irmão, o único de cor clara em meio a cinco irmãos miscigenados, sempre obteve os favores dos meus pais, parentes e vizinhos. Ou seja, ele era o mais bonito da família por ser loiro de olhos claros.
Joia era como nós o chamávamos. Minha tia colocou esse apelido por achar ele muito bonito, e realmente o era. Certa vez uma pediatra para adotá-lo,  minha mãe negou é claro. Uma de nossas vizinhas sempre o levava para a casa dela, a fim de agradá-lo com mimos.
Como irmão ele era sempre o mais calmo, altruísta, tinha um coração excelente. Fazia traquinagem como toda criança, mas nada que manchasse seu caráter. Em suma ele era um amor de pessoa.
Ia tudo bem até que ele foi trabalhar em uma lanchonete que pertenceu a meu pai. Na lanchonete era vendida cerveja, e por algum motivo ele começou a beber escondido, quando soubemos, ele já estava viciado. Tudo que fazíamos para ajudá-lo a sair do vício do álcool era inútil. O vício foi crescendo de tal forma que quando não tinha dinheiro para comprar bebida alcoólica ele bebia vinagre. Nessa época meu pai já tinha afastado ele da lanchonete para tentar recuperá-lo, mas era tarde demais. Quando ele com nossa ajuda parava de beber, só aguentava uma semana, pois começava a síndrome da abstinência que ele não conseguia superar.
Quando ele adoecia minha mãe o internava para tratamento, quando saía do hospital voltava a beber, não tinha forças para lutar contra o vício nem queria ser internado em clínica de tratamento.
Certa terça-feira sonhei fazendo o enterro dele, fiquei preocupada e liguei para minha mãe que me disse para não ficar preocupada que ela o  tinha internado para tratamento mais uma vez. Fiquei tranquila, pois era melhor ele recebendo cuidados médicos do que jogado na sarjeta, onde muitas vezes ele se encontrava, não sabia eu que do hospital meu irmão não sairia vivo. Na sexta-feira seguinte ao dia do meu sonho eu realmente estava enterrando-o.
O que faz com que tantos filhos queridos de suas mães se entreguem a um vício, sem dar-lhe a alegria de sentar-se a mesa para almoçarem juntos, de fazer uma faculdade, de constituir uma bela família, eu não sei. Como pode um bebê que foi amamentado com tanto carinho crescer para ser vítima do álcool, das drogas, ou seja, lá o que for. Não foi pra isso que nascemos, nascemos para ser uma bênção para Deus e a humanidade. Muitas vezes deixamos sê-lo por fazermos escolhas erradas.
 Meu amado irmão faleceu com apenas 23 anos de idade, na flor da juventude, nunca esquecerei os momentos que passamos juntos tanto nas alegrias como nas tristezas, esses momentos permanecerão comigo para sempre.  
  

                                                                             


sábado, 3 de novembro de 2012

Conhece-te a ti mesmo Parte II - O vício


Uma das piores condições do ser humano é quando ele fica viciado. O vício aprisiona a mente e o corpo. O vício destrói nossos sonhos, nos desmoraliza diante da sociedade. Para liberta-se dele é necessário um esforço sobre-humano, ajuda de Deus para ser mais exato.
Eu também já fui viciada. Viciada em roer unhas, viciada em assistir televisão e viciada em estudar. Quem nunca teve um vício? Acho que todos os adolescentes já tiveram um viciosinho. 
Problema maior que o vício é libertar-se dele. A libertação dessa terrível cadeia é sofrida, mas necessária. Faça uma introspecção de sua vida e perceba que vício você tem que vencer. Você pode ser viciado em alguma droga, facebook, anabolizantes, biscoitos ou outros, seja lá qual for sua cadeia liberte-se hoje com a ajuda de Deus.
Decidi passar uma semana sem roer unhas e consegui me libertar. Quanto a televisão, por mim mesma senti que estava passando dos limites e que isso estava me prejudicando, resolvi colocar outra atividade no lugar para ajudar-me a esquecer. Nunca fui viciada em drogas graças a Deus, minha ex-professora sempre dizia para fugir das drogas como o diabo foge da cruz e assim fiz até o dia de hoje. Mas se você não conseguiu se libertar peça ajuda a algum psicólogo, e principalmente, a Deus.
Meu irmão faleceu aos 23 anos porque nunca conseguiu se libertar do álcool. Um jovem inteligente, mas que foi vencido por um terrível vício. Espero que você seja mais esperto para ver o quanto estar sendo prejudicado. E que Deus te abençoe. Na próxima postagem contarei a história de como meu irmão tornou-se viciado e morreu.

sábado, 27 de outubro de 2012

Conhece-te a ti mesmo


 

O post de hoje é dedicado a uma garota chamada Larissa. Ela tirou em primeiro lugar em um concurso chamado Bom de Bíblia que avaliou o adolescente ou jovem que tinha mais conhecimento das Sagradas Escrituras em Pernambuco. Entre vários concorrentes ela tirou em primeiro lugar.

Por que cito essa garota neste texto? Primeiro porque gosto muito dela, segundo porque ela teve umas tonturas há alguns dias atrás. Esse fato me levou a pensar o porquê tantos adolescentes inteligentes, bons em redações ou matemática passam mal? O que está acontecendo com os jovens de hoje?  Será que eles não têm ciência do seu próprio estado físico, mental e espiritual?
A filosofia de Sócrates nos leva a fazer uma reflexão acerca do nosso EU. Será que nossos jovens estão nutrindo bem o corpo, o intelecto e o espírito? Que tipo de nutrição está fazendo parte dos seus cardápios diários?  Estão se alimentando de frutas, verduras, cereais e outros alimentos saudáveis? Ou os Fast Food é a tônica do momento?  Estão lendo bons livros, ouvindo boa música? Acredito que a maioria dos adolescentes e jovens não sabe ou não tem força para optar pelo que é melhor.
Devemos olhar nosso corpo tanto no exterior como também no interior. Observar se não há nada de errado conosco. Por exemplo: tenho alguma mancha na pele, minhas fezes são pastosas ou diarreicas, tenho dores de cabeças constantes, meu cabelo cai com frequência, às unhas são quebradiças, lacrimejo muito ou pouco, tenho secreção nasal ou vaginal? O interior também deve ser analisado: tenho mudança de ânimo repentidamente, ou seja, fico triste e com raiva com facilidade, me isolo, sou bastante tímido, tenho fobias? A resposta para todos esses questionamentos está em você se conhecer. Só podemos nos ajudar ou buscar ajuda de profissionais qualificados se fizermos uma autoanálise.
As mudanças para melhor virão à medida que me olho, não como um narcisista, porém, com um olhar crítico de quem que ser curado, ou melhor, de quem quer sempre ter saúde. Dessa forma, desejo a todos vocês muita saúde e para você minha querida Larissa beijos e um grande abraço.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O cuscuz nosso de cada dia


Hoje é um dia especial, o dia em que completo 44 anos. Agradeço a Deus por tantas histórias que acumulei no decorrer de minha existência, histórias alegres e tristes. Todas contribuíram na edificação do caráter que tenho hoje.
Agradeço ao Pai porque sobrevivi a uma época difícil, a época da ditadura. Nasci no final do governo de Ernesto Geisel e cresci durante o governo do Presidente Figueiredo. Nessa época a vida no Nordeste era muito precária.
Fico pensando em quantas vidas foram vencidas pelo monstro da fome. No sertão uma seca desgraçada, na cidade a luta de muitos na construção civil para poder levar um bocado de pão pra casa. Vi muitas mães esperarem seus maridos ao entardecer com uma feirinha que de tão pequena muitas vezes não durava nem a semana toda. Uma feira escassa, a base de cuscuz, feijão e farinha.
Esses três alimentos eram à base da família nordestina. Muitos pais, principalmente os que moravam na zona rural arredavam para o sul sem olhar pra trás, pois ou era deixar a terra natal ou morrer de fome. Meus avós, meus pais e eu estivemos também inseridos nesse contexto de miséria. Minha avó que além da fome sofria com o descaso do marido partiu para São Paulo onde terminou de criar todos os filhos com exceção de meu pai que já era casado e tinha filhos decidiu ficar e lutar..
O lema de pai era “só deixo o meu Cariri no último pau de arara”. Assim ele foi ficando, trabalhando como caminhoneiro e depois taxista para sustentar os seis filhos, e a vida ia passando aos trancos e barrancos. Muitas vezes, tinha feijão, mas não tinha arroz, tinha arroz, mas não tinha feijão. Nós comíamos cinco centímetros de carne aos domingos, Durante a semana era bife do oião, sardinha, salsicha e por aí vai.
Hoje posso olhar pra trás e perceber que eu e tantos outros nordestinos estarem vivos foi um milagre de Deus. Milagre concebido por esta grande invenção: o cuscuz. Não sei quem o inventou, mas sei que salvou da tragédia milhares de nordestinos que não tinham o que comer. Quanto de nós comemos  cuscuz pela manhã, à tarde e à noite. Esse alimento tão rico em ferro e de baixo custo nutriu muitos trabalhadores e crianças como eu, livrando de uma tragédia tão grande ou maior que a peste Negra na Idade Média, o Holocausto, Hiroshima e Nagasaki na segunda Guerra Mundial e tantas outras calamidades universais.
Em minha opinião foi dom dado por Deus a alguém que sem prever a dimensão do benefício inventou tão delicioso alimento, alimento de ouro posso assim dizer, pois ajudou-nos a estar vivos hoje para contarmos a História.

sábado, 20 de outubro de 2012

Ou bola ou inferno




Como boa parte das crianças eu sempre gostei de jogar bola.  Não teria nada de errado com esse esporte se não fosse minha mãe buzinando no meu ouvido, dizendo que eu estava pecando.
Pecando? Como? Calma, vou explicar. Minha mãe faz parte de uma igreja que diz que seus membros não podem jogar bola, se não vão para o inferno. Hoje em dia essa igreja está mais maleável, mas na minha infância muitas diversões eram tidas como pecado. Como por exemplo: ir à praia, meninas usarem anéis, usarem calça comprida e outras coisas mais.
Foram tempos difíceis para mim, pois eu era apaixonada pelo queimado e handball. Todas às vezes que eu adentrava os portões da escola, eu pedia perdão a Deus e prometia a Ele nunca mais jogar, pois acreditava piamente que estava pecando e iria para o inferno. Então no outro dia eu estava “pecando” novamente, e de novo pedindo perdão.
Somente ao ficar adulta, ainda “pecando”, descobri ao ler as Sagradas Escrituras que inferno é sinônimo de sepultura e que até Jesus foi ao inferno e no terceiro dia ressuscitou (Salmo 16:10 e Atos 2:7 em algumas traduções ler-se a palavra inferno, em outras aparece Seol, Hades, Mundo dos mortos).  Qual não foi meu alívio ao ler essas e outras passagens bíblicas. Foi tirado um peso de minha consciência. Hoje jogo handball sem medos.
Aprendi que jogar com espírito esportivo é muito mais que uma diversão, é um exercício físico que promove saúde e bem-estar. O pecado está em querer ser melhor que nossos irmãos. Em fazer do campo de futebol uma arena de gladiadores. Sem dúvida àqueles que assim procedem irão prestar contas a Deus.

sábado, 13 de outubro de 2012

O inverno vai passar


O inverno do ano passado foi de muita chuva. Fazia um mês que Bug tinha me deixado. Eu ainda estava triste, não queria mais cachorro vira-lata. Pedi a Deus um cachorro de raça.
Dificilmente eu vou à igreja numa quarta-feira porque trabalho, mas nessa quarta eu fui à igreja por algum motivo que não lembro no momento. Assisti todo culto. Ao terminar o culto escutei um burburinho na saída, algumas irmãs estavam ao redor de um cangaço de cachorro dizendo: __coitadinho, bichinho, vai morrer. Quando me aproximei para ver a cena todas olharam para mim como quem diz chegou à solução.
O cachorro era pequeno e muito magro. Tinha somente o coro e o osso. Ele estava todo encolhido no canto da porta de saída da igreja. Tinha se arrastado até ali por causa de uma chuva torrencial que caía lá fora. Ele estava todo molhado, tremendo de frio, sujo e faminto.
As irmãs olharam para mim e me persuadiram a adotar o cachorro com a desculpa de que ele iria morrer se alguém não o socorresse e de que eu precisava de um cachorro. Fiquei compadecida, pois entendi naquele momento se eu não fizesse alguma coisa, ele morreria. Pedi ao meu esposo para ir pra casa buscar um lençol velho para poder transportá-lo até lá. Quando ele voltou enrolei-o no lençol e levei-o pra casa.
Em minha casa coloquei-o num lugar seco e comecei alimentá-lo com leite. Dei banho nele depois de três dias, ele gripou. Tirei os cascões que estavam agarrados ao corpo quase moribundo do animal. Após uma semana de alimento ele começou a andar e após duas semanas voltou a latir. Passou-se um ano que Branco _ dei este nome porque ele é todo branco _ venceu todas as dificuldades que um inverno pode trazer. Nessa mesma época ganhei uma cadela Pastor Alemão. Os dois me presentearam com um lindo cachorrinho que chamei de Montanha, pena que ele não cresceu, ficou do tamanho do pai.
Se você passar por alguma situação difícil, seja o que for, lembre-se, o inverno vai passar. Nunca desista de lutar. Depois de uma noite sombria e solitária vem um lindo sol para iluminar a vida. Branco achou sua salvação na igreja, se não tivesse conseguido chegar até ali talvez não estivesse vivo hoje. Deus me presenteou com esse animal meigo e carinhoso que todos os dias nos acompanha até a parada de ônibus, conhece o barulho do nosso carro e que chora quando vê minha família saindo. Foi assim que esqueci Bug, o cachorro que me abandonara.





Apresento-lhes Branco.

sábado, 6 de outubro de 2012

O dia em que fui traída


Esse dia foi um dia triste para mim. Saí de casa por volta das seis e trinta da manhã para trabalhar, deixei-o para trás com um aceno, por volta do meio-dia voltei para almoçar, ele não estava. Procurei-o ao redor e não o achei. Saí novamente para trabalhar “com uma pulga atrás da orelha.” Voltei à tardinha e não o vi. Imaginei que talvez ele pudesse está na casa de alguém. Uma pessoa que todos os dias passava em frente a minha casa e cortejava-o.
Fui à casa dela conferir, qual não foi minha tristeza ao vê-lo lá sentado ao lado dela. Fiquei triste e com muita raiva, me controlei e pedi para ele voltar pra casa. Ele fingiu que estava voltando, eu vim logo atrás dele, quando cheguei em casa ele não estava. Fiquei chateada e então resolvi ligar para casa dela para saber se ele tinha voltado para lá. O sangue subiu a cabeça quando ela confirmou o que eu, no meu íntimo, já sabia.
Bug fora pra mim um presente de grego. Quando saí de apartamento para morar em casa, minha sogra deixou um filhote de cachorro na minha porta alegando que era um presente pra meu filho mais novo, mandei-a levá-lo de volta porque eu sabia que ia sobrar pra mim. E realmente, sobrou. Eu dava banho nele, preparava a comida e cuidava quando estava doente. Ele quase morreu por três vezes e eu cuidei dele como quem cuida de um filho.
Senti-me traída. Nunca pensei que um cachorro poderia negar seu dono.  O dono pode ser mendigo, lá vai o cachorro todo sujinho e magrinho seguindo ele. Bug era um cachorro tratado como rei, mas que preferiu voltar pra sua ex-dona. Ela o tinha dado a minha sogra que o deu para o meu menino.
Aprendi a superar a raiva e perdoei a escolha que ele fez. Quando ele adoecia sua nova dona vinha até mim para pedir remédios para ele, e eu sempre dava, pois considerava que ele continuava sendo responsabilidade minha. 

Faz quinze dias que ele adoeceu e faleceu na companhia dela.  Fiquei triste ao saber a notícia, mas feliz por ter sido a traída e não a traidora.

sábado, 29 de setembro de 2012

Beijo frustrado


Na década de oitenta os beijos cinematográficos de Hollywood despertavam nos jovens uma euforia transcendental.
Enfeitiçadas por essas cenas e também algumas revistinhas de história de amor, aos treze anos de idades participei de uma brincadeira na qual as participantes teriam que manter constantemente uma sigla escrita no braço.  Se não me falha a memória a sigla era a seguinte: AABC (Abraço Apertado Beijo Colado), quem fosse pega sem a sigla escrita no braço teria que pagar um beijo em um garoto escolhido pela colega que flagrou a falta da sigla.
Os meninos amavam essa brincadeira e as meninas também, porém, eu nunca quis ser flagrada, pois ainda era BV. O dia fatídico foi quando uma de minhas colegas observou que eu tinha esquecido em escrever a sigla antes de sair de casa. Não tive como escapar. O pagamento do beijo aconteceria à noite longe dos olhos de minha mãe, é claro!

Ao chegar a hora crucial meu coração batia como um bombo. Minhas mãos pingavam suor, mas que ninguém percebesse isso. No local estavam presentes algumas garotas e garotos para testemunharem o grande feito.
Um minuto para aproximar meus lábios dos lábios do rapaz que havia sido escolhido e que não por coincidência também era ligado em mim tornou-se uma eternidade. Bem, rompidos todos os obstáculos menos a vergonha quando meus lábios sentiram os dele, dei-lhe uma tremenda mordida no lábio inferior que ficou uns quinze dias roxo e inchado.
Com vergonha passei alguns dias sem falar com o garoto. Passado o vexame reatamos a amizade e um namorico começou. Descobri que ninguém deve influenciar você a fazer algo que você não quer ou que seja errado. Devemos nos posicionar quanto ao que queremos, ou então, seremos marionetes nas mãos dos outros. 

sábado, 22 de setembro de 2012


PitangaRoubo fracassado

Eu vim de uma família muito pobre, muitas vezes, eu e meus irmãos não tínhamos biscoitos para o lanche, nem sequer ouvíamos falar dos baratos biscoitos recheados. Tínhamos que aguardar a próxima refeição para podermos comer. Muitas vezes nosso lanche era suprido pelas árvores do quintal.
Na ausência de frutas no quintal, eu, que era a mais “esperta” aprendi com facilidade pegar pitangas no quintal da vizinha. Já estava perita no assunto. Todo dia atravessava a cerca de arame farpado e colhia com todo amor  suculentas pitangas. Ô fruta deliciosa!
Não era a fome que me motivava a fazer isso, pois sempre tínhamos as três refeições, mas a gula de degustar uma fruta roubada, acredito, era meu maior estímulo.
 Certo dia, colhi o máximo de pitangas que pude aparando-as na barra de minha blusa. Estava cega, pois não percebi que no meio delas veio também uma pimenta. Elas eram tão parecidas que não notei a intrusa. Saboreei uma por uma até que foi a vez da pimenta. Minha autoconfiança havia nublado minha visão. A boca começou a queimar, arder, meus lábios pareciam que estavam pegando fogo. Somente depois de beber muita água e comer açúcar a dor foi diminuindo.
Minha vizinha sentiu-se incomodada com o sumiço das pitangas, então teve a brilhante ideia de amarrar uma pimenta bem vermelhinha no meio das outras frutas. Ela queria dar-me uma lição e conseguiu. A lição de que “nem tudo que parece é”. Algo pode parecer maravilhoso aos nossos olhos agora e depois arder como pimenta. Por exemplo: um namorado ou uma namorada poderão parecer uma deliciosa pitanga e depois queimar como uma pimenta. Uma amizade poderá nos envolver de tal forma que não conseguimos enxergar que ao invés de pitanga ela é uma pimenta, nos arrebatando para o mal, transformando o doce de nossa vida e muitas vezes de nossa família num ardor igual o da pimenta. Portanto, abra bem os olhos para não errar em suas escolhas.



   

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Poema: um lindo presente!

Ou isto ou aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

                                                                     Cecília Meireles


Hoje tenho quase 43 anos e sou fruto de minhas escolhas. Quero compartilhar com vocês minhas aventuras, minhas incertezas, meus acertos e meus erros. Todos esses adjetivos me fizeram ser quem eu sou hoje. Sou filha, esposa, mãe, amiga e com alegria de sê-lo: professora.
Dedico este blog a todos meus familiares, conhecidos , desconhecidos, aos meus corajosos colegas de profissão e aos meus eternos alunos.
Deixo para vocês este poema de Cecília Meireles como um lindo presente. Beijos!